Continuando a conversa com os nossos leitores sobre “derrocagem de rochas“, hoje trazemos algumas informações interessantes e breves comentários sobre a arte de remover rochas submersas. Aqui na nossa página, já tratamos desse tema de forma introdutória em dois artigos. Os textos aos quais nos referimos são [esse, clique] e [esse daqui, clique]. Dando sequência ao estudo da derrocagem de rochas, nesse breve artigo, faremos um apanhado sobre as etapas por trás dessa técnica que visa a, dentre outros propósitos, proporcionar maior navegabilidade a uma hidrovia e, com isso, fortalecer a economia como um todo. Como explicado nos textos passados, a instalação de um sistema multimodal cujo objetivo seja o escoamento da produção agrícola, mineral e pecuária para a exportação, por exemplo, é imprescindível para um país. É necessário combater as restrições (fundos rochosos) de passagem em condições de calado restringido (particularmente na temporada seca) para que picos de rochas não atinjam o casco da embarcação.
Derrocagem de rochas: uma questão pública
A Constituição Federal do Brasil assim determina:
Art. 21. Compete à União:
XII – explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão:
(…)
c) a navegação aérea, aeroespacial e a infra-estrutura aeroportuária;
d) os serviços de transporte ferroviário e aquaviário entre portos brasileiros e fronteiras nacionais, ou que transponham os limites de Estado ou Território;
(…)
f) os portos marítimos, fluviais e lacustres;
Assim, dada a predominância da União sobre esses aspectos, é imprescindível que abordemos a derrocagem de rochas à luz da sistemática da coisa pública.
A Advocacia Geral da União, alerta que os projetos para construção, reforma ou ampliação de um empreendimento serão elaborados em três etapas sucessivas: estudo preliminar ou anteprojeto – realizado na fase preliminar à licitação –, projeto básico e projeto executivo. Todos esses estudos e projetos deverão ser desenvolvidos de forma que guardem sintonia entre si, tenham consistência material e atendam às diretrizes gerais do programa de necessidades e dos estudos de viabilidade.
Estudo Preliminar de derrocagem de rochas e Anteprojeto
Luiz Fernando Otero Cysne ensina que o estudo preliminar é uma avaliação técnica introdutória, de envergadura superficial, que visa definir as necessidades básicas e estabelecer os caminhos na direção de uma ou mais soluções. Uma estimativa de investimento pode fazer parte do estudo preliminar. Usualmente um relatório aglutina todo o estudo preliminar. Nesse sentido, no âmbito do desmonte subaquático, à título de exemplificação, o objetivo geral desse estudo pode estar atrelado à melhoria da navegabilidade de uma hidrovia. O objetivo específico, por sua vez, pode estar relacionado à sugestão de um novo traçado.
Projeto Básico de derrocagem de rochas e Projeto Executivo
Quanto ao projeto básico, o mesmo autor citado acima explica que ele é uma peça prevista em lei, cuja finalidade principal é servir como parâmetro e ponto de partida para a elaboração de editais de licitação. Em relação a derrocagem de rochas, pode-se citar a realização de levantamentos batimétricos (medições da profundidade de mares, rios ou lagos) e investigações geofísicas (ex: magnetometria). Ensaios de sismologia e detalhamento de falhas e fraturas existentes no fundo rochoso também podem ser colocados em prática ao longo da etapa de elaboração do projeto.
Vale dizer que há situações nas quais o poder público opta pela contratação chamada contratação integrada (desenvolvimento do projeto básico, executivo e execução da obra pelo mesmo licitante).
Há casos em que o projeto executivo poderá ser desenvolvido em concomitância à obra de dragagem e derrocagem. Contudo, se a modalidade adotada para a execução do serviço for a denominada Regime Diferenciado de Contratação (que comporta algumas premissas diferentes da Lei Geral de Licitações – Lei 8.666), isso não poderá ocorrer.
Por outro lado, é permitida, de acordo com a normas para licitações e contratos da Administração Pública, a participação do autor do projeto ou da empresa responsável pela elaboração do projeto básico ou executivo de derrocagem, na licitação de obra ou serviço, ou na execução, como consultor ou técnico, nas funções de fiscalização, supervisão ou gerenciamento, exclusivamente a serviço da Administração interessada.
Superados essas questões legais e burocráticas que, diga-se de passagem, foram tratados de forma superficial nesse artigo uma vez que não constituem o seu objeto de estudo, passemos para a execução da derrocagem propriamente dita.
Execução da derrocagem
Eleita a forma como se dará cada etapa da derrocagem, é chegada a hora de pôr a mão na massa. Como já relatado aqui no blog da Valmon Engenharia, em decorrência da dureza de rochas submersas e outros fatores, a remoção dos afloramentos por técnica de dragagem fica inviabilizada, sendo o desmonte de rochas por explosivos a metodologia recomendada. Assim, com o plano de fogo e licenças emitidas por órgãos públicos em mãos, iniciam-se os trabalhos para neutralizar as zonas perigosas à navegação, caracterizadas dessa forma em função das chamadas “pedras mortas”. A etapa de mobilização de pessoal, equipamento e todo o canteiro de obras dão a largada para a obra de derrocamento.
A metodologia é compreendida, basicamente, das seguintes etapas:
- Realização de linhas de perfuração com posterior carregamento dos furos;
- Liberação da área;
- Detonação das cargas;
- Verificação da detonação das cargas (busca por locais em que não houve a deflagração do explosivo).
Perfuração e carregamento dos furos
A demolição da área de pedrais é realizada via detonações em conjunto com o uso de escavadeiras hidráulicas de grande porte (dispostas sobre convés) para a remoção e carregamento do material detonado.
Técnicos do DNIT em conjunto com engenheiros do Tribunal de Contas da União (TCU) explicam que, primeiro, a plataforma flutuante (parque de perfuratrizes / plataforma de perfuração) é posicionada para a realização dos furos. É parte integrante da Plataforma de perfuração o sistema de fundeio (guinchos, spuds, etc.), que fará com que a mesma fique estável mesmo com a influência das fortes corredeiras existentes, a fim de possibilitar perfeita estabilidade da plataforma permitindo assim a realização dos furos no maciço rochoso da malha dimensionada. Nas quatro extremidades da plataforma flutuante são fixados guinchos, acionados por meio de cabos de aço esticados até o sistema de ancoragem (âncoras ou poitas especiais), presos ao fundo do rio, para garantir sua estabilidade
A Plataforma deverá estar devidamente: alinhada, estável e liberada pela topografia, para início dos trabalhos de perfuração da malha do plano de fogo do derrocamento.
Em se tratando de perfuratriz única, ela desloca-se sobre o flutuante para realizar os tais furos. Marteletes a ar comprimido são os equipamentos mais utilizados para a perfuração.
Entretanto, também existe a possibilidade de os furos serem realizados por mergulhadores. Existem diversas técnicas de mergulho, sendo a saturação (procedimentos pelos quais o mergulhador evita repetidas descompressões para a pressão atmosférica) uma delas. Entretanto, de acordo com o Manual do Trabalho Submerso, considera-se o uso e manuseio de explosivos condição perigosa para a realização de trabalhos de mergulho com a técnica de saturação.
Ainda sobre a etapa da realização dos furos, a plataforma autoelevatriz com três torres de perfuração é um equipamento que vem sendo utilizado em muitas obras no país.
Com vistas a assegurar a profundidade de projeto, é realizada, adicionalmente, a subfuração – perfuração abaixo da profundidade média cujo propósito é não haver falhas na derrocagem.
Na etapa de carregamento, a utilização de explosivos densos é preferível para o preenchimento dos furos. Nesse sentido, explosivos nitroglicerinados possuem maior resistência à água.
Além disso, previamente à etapa de detonação, é comum a execução de uma vala (ou trincheira) e, também, da linha de descontinuidade para isolamento de área em decorrência das vibrações causadas pelas salvas de explosivos.
O empreiteiro deve estar atento a questões ligadas à sinalização. Igualmente, comunidades ribeirinhas devem ser avisadas com antecedência sobre as explosões. Além disso, órgãos públicos de autoridade marítima devem estar a par dos eventos e de todo o pessoal envolvido com as detonações.
Transporte e disposição dos materiais derrocados
Dentre as metodologias existentes para essa etapa, o transporte e disposição dos materiais derrocados poderá ocorrer por barcaças de descarga de fundo, empurramento com veículos auto-propelidos posicionados sobre barcaças (tratores de esteira com lâminas/pás carregadeiras) ou guindaste com clamshell. Outro equipamento de engenharia muito útil para o cumprimento dessa fase é denominado orange peel (uma clara alusão à casca de laranja).
A etapa de disposição dos materiais derrocados também exige atenção por parte dos envolvidos nas obras de derrocamento, pois se faz necessário avaliar o fim que se dará ao produto das detonações de rocha (depósito dos rejeitos/ bota-fora).
O transporte do material escavado e depositado nos batelões para descarga no bota-fora poderá ser feito utilizando-se rebocadores de empurra para o encaminhamento dos batelões e manobra até as áreas de bota-fora.
Custos das obras de derrocagem
Não se pode afirmar que existe um preço absoluto para obras de derrocagem. Há diversos fatores que devem ser levados em conta na composição dos custos. Um deles é a a dureza da rocha – como já explicamos aqui no blog da Valmon Engenharia. Outros fatores a serem considerados são:
- Lâmina d’água do local da escavação;
- Condições do mar no local do serviço (como correnteza e altura das ondas que afetam a produtividade como um todo);
- Volumes de escavação (e custo de mobilização de equipamentos);
- Exigências de órgãos ambientais.
Aqui cabem algumas observações. O cálculo-chefe tem por base a produtividade do equipamento de perfuração, e não dos equipamentos de escavação. O empreiteiro, ao executar a obra, deve sempre estar atento a gestão dos custos. Detalhes simples como manter barcos de apoio com os motores desligados enquanto em espera, alijam os custos de desperdício da obra.
Considerações finais
Diversas ações impactantes advindas da execução devem ser levadas em conta na fase de estudos preliminares. Algumas delas são a intrusão da maré salina, modificação do regime de ondas, correntes e erosão. Assim, é condição sine qua non assumir uma postura responsável em prol da proteção ao meio ambiente, de forma a alterar, o mínimo possível, o habitat da fauna e da flora aquáticas.
A Valmon Engenharia tem expertise nesse nicho de mercado. Entre em contato conosco para obter mais informações.
Fonte da capa desse texto: Jaxport